14.10.14

Soneto das Horas

      aos queridos mortos

       Durs Grünbein

       E manda-o também esperar a hora
       de dar à luz a sua própria morte (...)

       Rainer Maria Rilke


Por tardia que seja, é sempre cedo
Que se faz a viagem sem regresso,
Não sei se aliviada, se com medo
Da crença de que a vida tem um preço
A pagar no além, depois da morte.
Mas pior que a triste despedida,
Seria apresentar o passaporte
Da alma face à ausência de outra vida.
Outra vida haverá, havendo o ciclo
Do carbono que muda e transmuda,
E mesmo que o faça em contraciclo
Com a essência das coisas, talvez surda
Um ácido, uma base - uma semente
Que fecunde a matriz de um novo ente.

© Domingos da Mota

~

 'Pequeno tratado das sombras'

5 comentários:

  1. Gostei, particularmente, deste seu poema.
    Não lhe saberia explicar porquê, mas lembrei-me de A. Gedeão.
    Uma boa tarde de domingo!

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    1. Analisando bem, justifica-se plenamente o seu comentário sobre a lembrança de António Gedeão:"Mandei vir os ácidos,/as bases e os sais", do belíssimo poema, "Lágrima de preta". Obrigado.
      Continuação de uma boa tarde de domingo!

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  2. Belíssimo soneto das horas. Adorei. Abraço.

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  3. Gostei muito do seu poema. Abraço

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