11.2.16

Que dose, José?

O pseudoprofeta
de língua afiada
(conversa rasteira
de feira da ladra)
mantendo que sabe
aquilo que diz,
refuta os sábios
e morde os lábios 
com ar infeliz;
mastiga sentenças,
tortura os números,
propõe revisões
e cortes inúmeros
e destruições,
em nome do dono
e do seu latim;

augura desastres
e chumbos e pestes,
terramotos, enfim,
nas contas caladas,
se houver reversões.
E torce o nariz, 
carrega o sobrolho
e roga e prediz
o aperto, em dobro:
é olho por olho
e dente por dente
(só sai do recobro
quem for um temente
do deus do mercado,
seu servo e criado,
com mais servidão).

Que cara, que pose,
que novo argumento,
que rombo defende,
pior punição,
receita, unguento,
pomada, pastilha,
xarope, água-pé,
castigo, tormento,
que dose, 
José?

© Domingos da Mota


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