20.7.25

Os outros

Como falar dos outros sem falar de nós,
nós que somos os outros para outros
e como eles tantas vezes só
em busca de um lugar que nos acoite?

© Domingos da Mota

11.7.25

MORTE

Sabemos que de todas as sementes
é a mais pesada. Havemos de esperar
por ela. Acolhemo-la e nada
podia ser tão nosso. Compreendemos
que no seu interior talvez exista
a última seiva, o rumor de outra
germinação para que fique
junto dela. Descai silenciosa
e devagar. A terra é o nosso corpo.

Fernando Guimarães


(Sete poemas, Revista de Poesia relâmpago N.º 29/30, Outubro de 2011-Abril de 2012, Ano XV)

5.7.25

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

O que é um nome?, um rosto
levantado com o lume dos dias?,
este lume que arde, arrefece,

nos consome, nos devora os ossos
taciturnos? O que é um nome
cinzelado a fogo?, esculpido

num rio de águas vivas?,
da pulsão das águas ao tumulto
das veias dilatadas, abrasivas?


Domingos da Mota

Bolsa de Valores e Outros Poemas
, Temas Originais, Lda., Coimbra, 2010

2.7.25

O VELHO ABUTRE

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas


Sophia de Mello Breyner

Grades, publicações Dom Quixote, Novembro de 1970