19.12.20

«NINGUÉM SE MEXA! MÃOS AO AR!»



«Ninguém se mexa! Mãos ao ar!» disse o histérico
e frívolo homenzinho com mais medo
da arma que empunhava que de nós.
«Mãos ao ar!», repetiu para convencer-se.

Mas ninguém se mexeu, como ele queria...
Deu-lhe então a maldade. Quase à toa,
escaqueirou o espelho biselado
que tinha as Boas-Festas da gerência

escritas a sabão. Todos baixámos,
medrosos, a cabeça. Se era um louco,
melhor deixá-lo. (O barman escondera-se
por detrás do balcão). Ali estivemos

um ror de medo, até que o rabioso
virou a arma à boca e disparou.

Alexandre O'Neill


POESIAS COMPLETAS, Assírio & Alvim, Maio 2007

18.12.20

1 Árvore plantada


Árvore plantada
à beira das correntes.
Fruto na estação própria.
Folhagem que não murcha.

Feliz o homem
que tudo quanto faz em bem se torna.


Mário Castrim


Do Livro dos Salmos, Editorial Caminho, 2020

7.12.20

EINSTEIN



De um sonho de amor
às abluções,
idas à farmácia,
é um passo.
Nasceu
como todos, ao som
da respiração ritual
de sua mãe.
Este escapou
à sanha de Herodes
e à cruz (gamada),
Aos 60,
segurando o cachimbo,
nunca vi
um polegar
tão lindamente
oponível.


Sebastião Alba


Todas as noites me despeço, OPERA OMNIA - Edição, Distribuição e Comercialização de Livros, Guimarães, Setembro de 2020

4.12.20

[Com um filho no ventre]



Com um filho no ventre
E outro no colo
Cisca as ervas
Ao cebolo


Aurelino Costa


PITÕES DAS JÚNIAS Tões de Aurelino Costa com Anxo Pastor, blue book, 2.ª Edição, Porto