A tarde estava errada,
não era dali, era de outro domingo,
quando ainda não tinhas acontecido,
e apenas eras uma memória parada
sonhando (no meu sonho) comigo.
E eu, como um estranho, passava
no jardim fora de mim
como alguém de quem alguém se lembrava
vagamente (talvez tu),
num tempo alheio e impresente.
Tudo estava no seu lugar
(o teu lugar), excepto a tua existência,
que te aguardava ainda, no limiar
de uma súbita ausência,
principalmente de sentido.
Manuel António Pina
POESIA, SAUDADE DA PROSA uma antologia pessoal, Assírio & Alvim, Lisboa, Maio de 2011
Um grande senhor das letras, Manuel António Pina, e um excelente observador da realidade. Mas os seus poemas são de tão difícil interpretação...
ResponderEliminar