O tempo é um velho corvo
de olhos turvos, cinzentos.
Bebe a luz destes dias só dum sorvo
como as corujas o azeite
dos lampadários bentos.
E nós sorrimos,
pássaros mortos
no fundo dum paul
dormimos.
Só lá do alto do poleiro azul
o sol doirado e verde,
o fulvo papagaio
(estou bêbado de luz,
caio ou não caio?)
nos lembra a dor do tempo que se perde.
Carlos de Oliveira
TRABALHO POÉTICO, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 3.ª Edição, 1998
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