Um lago de luz negra sorveu-te os olhos
Com eles te arrastando e todo o peso do mundo
Cai na mesa onde estás deitado.
Só um vago sorriso ficou de fora
E é só de dentro que nos falas.
O tempo, enfim, deixou-te em paz,
Selou-te o coração com a última rubrica
Mas vem limpar em nós a sua faca.
Manuel Resende
Poesia reunida, Posfácio de Osvaldo M. Silvestre, Edições Cotovia, Lda., Abril, 2018
29.1.20
19.1.20
QUE TRABALHO
Que trabalho exasperado, o da língua,
essa em que dizes com mão insegura
desvios, desacertos, desalinhos.
Eugénio de Andrade
PEQUENO FORMATO, com um retrato de Alfredo Cruz e um desenho do escultor José Rodrigues, em edição fora do mercado, numa tiragem de 250 exemplares destinada aos amigos da Fundação Eugénio de Andrade, Fevereiro de 1997
essa em que dizes com mão insegura
desvios, desacertos, desalinhos.
Eugénio de Andrade
PEQUENO FORMATO, com um retrato de Alfredo Cruz e um desenho do escultor José Rodrigues, em edição fora do mercado, numa tiragem de 250 exemplares destinada aos amigos da Fundação Eugénio de Andrade, Fevereiro de 1997
3.1.20
vita brevis
a vida breve, revele-a
a pulsação que lateja
no efémero da camélia,
ou no lustro da cereja,
é a do coração que dita
a dor que lhe sobejou
e tenta deixá-la escrita
mas não conta o que escapou
pelo espelho, quando a máscara
vai perdendo o frenesim,
e agora tanto lhe faz: para
o caso é mesmo assim,
nem há lixa ou aguarrás
que apague as marcas que traz.
Vasco Graça Moura
uma carta no inverno, Quetzal Editores, Lisboa, 1997
a pulsação que lateja
no efémero da camélia,
ou no lustro da cereja,
é a do coração que dita
a dor que lhe sobejou
e tenta deixá-la escrita
mas não conta o que escapou
pelo espelho, quando a máscara
vai perdendo o frenesim,
e agora tanto lhe faz: para
o caso é mesmo assim,
nem há lixa ou aguarrás
que apague as marcas que traz.
Vasco Graça Moura
uma carta no inverno, Quetzal Editores, Lisboa, 1997
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