19.2.21

POEMA DA MORTE APARENTE



Nos tempos em que acontecia o que está acontecendo agora
e os homens pasmavam  de isso  ainda  acontecer  no tempo
               deles,
parecia-lhes a vida podre e reles
e suspiravam por viver agora.


A suspirar e a protestar morreram.
E agora, quando se abrem as covas,
encontram-se às vezes os dentes com que rangeram,
tão brancos como se as dentaduras fossem novas.

António Gedeão

POESIAS COMPLETAS (1956 -1967), Portugália Editora, Lisboa, Janeiro de 1971

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