12.6.23

SENHORA VERMEER

À senhora Vermeer coube-lhe a sorte
de não caber nos quadros
de Vermeer, seu marido.
Não possuía o traço do anil
ou do ouro
que lhe caíam do regaço
como única declaração de posse
das jóias e do marido
que não era jóia nenhuma
como dizia a criada
que sabia como se cozinhavam as coisas
à rapariga do brinco
que ele pintou para sua desgraça.
A senhora Vermeer não ficou na História da Arte
só na das histéricas lágrimas
e inúteis posses,
desvairada e borratada
na sua pintura.


Ana Paula Inácio


Telhados de Vidro, N.º 11, Novembro 2008
, edição Averno, Lisboa

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