outras mãos que não as minhas haverá para o recolher
outros olhos pelos meus lhe hão-de fitar depois a ausência.
Depois, nem isso.
Há um momento em que se estende a toalha sobre a mesa dos mortos
como se tivesse sido sempre a mesa dos vivos. Esse dia virá.
Tudo então estará certo e limpo como o esquecimento.
Ou quase assim.
Dispo agora toda esta roupa e escrevo
- sem frio nem perda nem desastre -
a partir desse dia que virá, esse dia depois de mim:
lírios crescem no acaso vivo da relva
uma leve poeira se acrescenta ao ar que não respiro.
Rosa Maria Martelo
SIRINGE, Averno, Lisboa, Março de 2017
SIRINGE, Averno, Lisboa, Março de 2017
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