7.8.24

— Glória —

(Malcolm Lowry)


A glória é como uma terrível catástrofe,
pior que a casa incendiada; enquanto
se abate a trave-mestra, o fragor
da destruição repercute-se cada vez mais depressa;
e tu contemplas tudo aquilo, inane
testemunha da danação.

Como uma bebedeira a glória devora
a casa da alma, revela que trabalhaste
para coisa pouca: para ela -
ah, queria que esse beijo traiçoeiro nunca tivesse
molhado a minha face: queria
fundir-me, só, para sempre, na obscuridade, na noite.


1987 e 1996-97

Herberto Helder 

OUOLOF Poemas Mudados para Português por Herberto Helder, Assírio & Alvim, Lisboa, 1997

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