28.9.25

Com o coração na boca

Com o coração na boca

em vez de gelo nos pulsos,

são tantos os boquirrotos,

belicosos serão muitos.


Domingos da Mota

22.9.25

20.9.25

ALEXANDRA PIZARNIK ATRAVESSA A ZONA PROIBIDA

A vida impõe-me condições a que não sei
responder, não sei como suportar esta réstia de sol
na minha cama, esta noite obstinada
no meu espírito, a sitiar-me o cansaço
de uma culpa insustentável, despovoada.

Não sei o que faço entre a vitória
e a derrota, desprovida de oblação e realidade,
enquanto nada temo e tudo me fere. Aqui se esgotam
as atribulações da bonança e não sei que tormenta

se seguirá. Ah, não fui profeta nesta terra
e as pequenas elegias que escrevi
foram as únicas conivências a que me permiti,
nesta greve de sangue, total e irrespondível.


Amadeu Baptista

As Sombras Nítidas, Edição RJV - Editores, Lda., Castelo Branco, Junho de 2025

11.9.25

Dies Irae

    o ódio sopra uma bolha de desespero
     na vastidão do sistema do mundo do universo e explode

     e. e. cummings


Falo
agora dos tempos cegos,
surdos, das vinganças
cruéis, dos ódios

roucos, do terror
a bramir, do absurdo
encharcado de fé
até aos ossos. Das torres,

do poder, de tanto orgulho
a ruir das alturas,
bruscamente

(do riso amarelo dos abutres)
e da fúria das águias
e dos ventos.

© Domingos da Mota

Bolsa de Valores e Outros Poemas, Temas Originais, Lda., Coimbra, 2010