Deixas os sapatos pelo chão
e eu tropeço neles
como se duas serpentes
trocassem de olhar entre si
para me puxarem o corpo
para o vazio soerguido dos tempos
abertos na carpete os livros
a lareira a várias vozes
indiferente ao mar
como resina branda e atenta
suspensa da garganta muda
o mel da luz passada
exagera o meu lado fora de mim
qual cigarra arremessando sedimentos
domésticos e alheios
os sapatos mordem a canela dos meus nervos
improváveis, penetrantes
tilintam nesta memória
de quem respira sempre no escuro
José Manuel de Vasconcelos
A MÃO NA ÁGUA QUE CORRE, Assírio & Alvim, Lisboa, Março 2011
José Manuel Vasconcelos, Animais Domésticos - encaixou perfeitamente na qualidade deste blogue.
ResponderEliminarParabéns!
Rita Carrapato,
ResponderEliminarAgradeço a visita e o comentário.
Espero que o poeta se possa sentir bem neste espaço dedicado à poesia.