(...)
E agora escrevo, e não tem isto que ver com o amor,
o que seja o amor
- o bando sobrevoa os telhados,
o columbófilo faz a dramaturgia dos pombos,
acena-lhes panos para que reconheçam o ninho,
mostra-lhes o columbário,
abre-lhes o caminho aéreo para o pombal,
pousa com fragor a pistola no tampo da mesa
e mata-nos por antecipação porque é bovino o povo,
há-de deixar-se ir tempo demais na miséria,
repartindo-se pelas múltiplas partes da sua própria diáspora,
vão uns para a guerra, outros para a emigração,
aos que ficam nada mais restará que esperar
e tudo ficará escalavrado como dantes,
tudo será decisivo como termos aqui estado
(...)
Amadeu Baptista
O ANO DA MORTE DE JOSÉ SARAMAGO, &etc, Lisboa, 2010
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