7.12.15

AUTO-RETRATO

Poeta   é certo   mas de cetineta
fulgurante de mais para alguns olhos
bom artesão na arte da proveta
narciso de lombardas e repolhos.

Cozido à portuguesa   mais as carnes
suculentas da auto-importância
com toicinho e talento   ambas partes
do meu caldo entornado na infância.

Nos olhos   uma folha de hortelã
que é verde como a esperança que amanhã
amanheça de vez a desventura.

Poeta de combate   disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos poucos de ternura.

José Carlos Ary dos Santos

OBRA POÉTICA, edições Avante! (5.ª edição), Lisboa, Julho de 1994

Sem comentários:

Enviar um comentário