3.9.14

tantos seres(tantos demónios e deuses

tantos seres(tantos demónios e deuses
cada qual mais ganancioso do que todos)é um homem
(tão facilmente um em outro se esconde;
e não pode o homem,sendo todo,fugir a nenhum)

tão vasto tumulto é o mais simples desejo:
tão impiedoso massacre a esperança
mais inocente(tão profunda é a mente da carne
e tão desperto o que o acordar chama dormir)

assim nunca está o mais sozinho homem só
(o seu mais breve respirar vive o ano de algum planeta,
a sua mais longa vida é a pulsação de algum sol;
a sua menor imobilidade percorre a mais jovem estrela)

--como pode um louco que a si próprio se chama «Eu» supor
que entende um não numerável quem?

E. E. Cummings

livrodepoemas, tradução, introdução e notas de Cecília Rego Pinheiro, Assírio & Alvim, Lisboa, Junho de 1999

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