O jornal dobrado
sôbre a mesa simples;
a toalha limpa,
a louça branca
e fresca como o pão.
A laranja verde:
tua paisagem sempre,
teu ar livre, sol
de tuas praias; clara
e fresca como o pão.
A faca que aparou
teu lápis gasto;
teu primeiro livro
cuja capa é branca
e fresca como o pão.
E o verso nascido
de tua manhã viva,
de teu sonho extinto,
ainda leve, quente
e fresco como o pão.
João Cabral de Melo Neto
POESIA COMPLETA, 1940-1980, Prefácio de Óscar Lopes, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Maio de 1986
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