Não me peças, ó vida, o que não dás.
Se o que sempre pedi nunca me deste,
e ao que não me atrevera tu trouxeste
às minhas mãos sem jeito de o conter,
para que pedes o que não me dás?
Se nada tenho do que desejara
e tendo tanto por que não esperara,
como hei-de dar-te, sem jamais saber
que meu foi teu, que teu foi meu, que nosso
foi só de empréstimo, como hei-de ou posso,
entre o que tenho, decidir e dar?
E como ao que não tenho hei-de perder,
pelo que me darias a escolher
como se fora tempo de acabar?
1961
Jorge de Sena
PEREGRINATIO AD LOCA INFECTA 70 POEMAS E UM EPÍLOGO, Portugália Editora, Lisboa, Setembro de 1969
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