Aguardarás o tempo da vindima:
que as uvas sofram, como bem-fazeja
dádiva férvida, o calor de enlevos
que aproximar vai o verão do fim.
E só depois as poderás colher,
e só depois tu poderás fremindo
esmagá-las sem dor com a leveza
com que se beija um corpo em cio unindo-se.
Aguarda pois. E faz da tua espera
a certeza insuspeita de que um dia
há-de num copo rutilar o vinho -
e nos teus dedos em papel modesto
fugirá o mistério da vindima
transformado nos versos que nutriste.
António Salvado
Um fio de água, Antologia mínima I, Organização Nicolau Saião, Sirgo, Castelo Branco, 2012
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