Varrida pela chuva a álea rasa,
sai o inverno nesta primavera.
O tempo quis negar-nos sua casa,
a História faz de farsa ou de quimera
prometida por doutos e por santos
que nos levam, de cegos, ao abismo:
folheio pela noite fólios tantos,
que já não sei se sonho no que cismo.
Este tempo não sabe da desgraça,
repete sem cessar a ladainha:
liberdade que nasce em cada praça,
alvorecer enfim que se avizinha!
Mas no amanhecer, entre destroços,
o tempo varre cinzas, restos, ossos.
Luís Filipe Castro Mendes
OUTRO ULISSES REGRESSA A CASA, Assírio & Alvim, Porto, Fevereiro 2016
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