18.11.13

Relatório

É um  mundo pequeno,
habitado por animais pequenos
- a dúvida, a possibilidade da morte -
e iluminado pela luz hesitante de

pequenos astros - o rumor dos livros,
os teus passos subindo as escadas,
o gato perseguindo pela sala
o último raio de sol da tarde.

Dir-se-ia antes uma casa,
um pouco mais alta que um império
e um pouco mais indecifrável
que a palavra casa; não fulge.

Em certas noites, porém,
sai de si e de mim
e fica suspensa lá fora
entre a memória e o remorso de outra vida.

Então, com as luzes apagadas,
ouço vozes chamando,
palavras mortas nunca pronunciadas
e a agonia interminável das coisas acabadas.

Manuel António Pina

COMO SE DESENHA UMA CASA, Assírio & Alvim, Lisboa, Outubro 2011

2 comentários:

  1. Agradeço por ter compartilhado o intenso poema desse grande poeta, que eu desconhecia. Passei toda a tarde buscando notícias e outros poemas do autor.
    Obrigada, um abraço da Itália, Manuela

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    1. Cara Manuela,

      Agradeço a visita.
      Quanto a Manuel António Pina, é, como diz, um grande poeta, e merece bem ser lido e divulgado. A sua obra, felizmente, está disponível nas livrarias, mas não só, também se encontram muitos dos seus poemas publicados em muitos sítios, na Internet.

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