É um mundo pequeno,
habitado por animais pequenos
- a dúvida, a possibilidade da morte -
e iluminado pela luz hesitante de
pequenos astros - o rumor dos livros,
os teus passos subindo as escadas,
o gato perseguindo pela sala
o último raio de sol da tarde.
Dir-se-ia antes uma casa,
um pouco mais alta que um império
e um pouco mais indecifrável
que a palavra casa; não fulge.
Em certas noites, porém,
sai de si e de mim
e fica suspensa lá fora
entre a memória e o remorso de outra vida.
Então, com as luzes apagadas,
ouço vozes chamando,
palavras mortas nunca pronunciadas
e a agonia interminável das coisas acabadas.
Manuel António Pina
COMO SE DESENHA UMA CASA, Assírio & Alvim, Lisboa, Outubro 2011
Agradeço por ter compartilhado o intenso poema desse grande poeta, que eu desconhecia. Passei toda a tarde buscando notícias e outros poemas do autor.
ResponderEliminarObrigada, um abraço da Itália, Manuela
Cara Manuela,
EliminarAgradeço a visita.
Quanto a Manuel António Pina, é, como diz, um grande poeta, e merece bem ser lido e divulgado. A sua obra, felizmente, está disponível nas livrarias, mas não só, também se encontram muitos dos seus poemas publicados em muitos sítios, na Internet.