18.5.24

Megafones

Tivesse tento na língua,
outro porte, algum decoro,
e ficaria à míngua
de holofotes, sem o coro

de megafones falazes
que exaltam o despudor
e o propalam, capazes
de levá-lo num andor.

© Domingos da Mota

17.5.24

Música Nua



                100.




 O rio correu entre nós
         ascendendo
para a terra. Espera-nos
         o pó. Um pó
         apaixonado.


Casimiro de Brito

Música Nua, Coisas de Ler Edições, Lda., Setembro de 2017

11.5.24

DEGENERAÇÃO MACULAR

Vejo agora a vida numa nuvem suspensa
sobre a luz clara do dia.
Degeneração macular
disse o médico dos olhos.
Coisas da idade.
E mostrou a imagem de uma espécie de rio
ou ondulante verme de ventre tumefacto
que vi com o olho ainda bom
tapando a mácula.
Ainda assim gostei do nome
a mácula
a mancha
a mágoa serpentina
só não sabia que morava atrás dos olhos
que foram verdes quando havia Primavera.

Helder Macedo

in NERVO / 21 colectivo de poesia Maio/Agosto 2024, editora: Maria F. Roldão

10.5.24

Zangão

Que faz um homem no meio de um pomar florido?
Uma oração entre zangões.

Adelino Ínsua

Bestiário Íntimo
, Edições Húmus, Vila Nova de Famalicão, Março de 2024

5.5.24

Mãe

Tu que foste
Tu que és
Tu que serás
Tu que concebeste

E que pariste
Tu que deste o colo
E amamentaste
Tu que choraste

E que sorriste
Tu que educaste
E acompanhaste

Tu que és
Tu que serás
Tu que partiste

© Domingos da Mota