23.4.17

PARA UM LIVRO

O tempo que passei fechado sem
nenhum leitor, justificou ser
imolado pelas traças.

Inês Lourenço

COISAS QUE NUNCA, &etc, 2010

16.4.17

RITORNELOS

25.

O que se torna tempo
não podes somá-lo
é abissal e infinito
esperar que nasça o princípio
no interior do que só vês de fora.

Não, não podes somá-lo
entre os dedos idênticos
nem à verdade nem à carne,
o que se torna tempo
é este exacto instante
que se cumpriu
se perdeu.

Joana Emídio Marques

RITORNELOS seguido de CÂNTICOS DA FLORESTA e LITANIAS, Desenhos de Bárbara Fonte, abysmo, Lisboa, Fevereiro 2014

9.4.17

em língua de gato

Nada sei do amor é uma aragem
(outros o cantem) uma poeira
Nem sou esse o gato que pensa
mas o senhor sim desta passagem

entre ombro e ombreira
Veludo é o pelo me apascenta
Horas tantas que durmas lambo
as quentes sessenta e nove

de lado até caírem co'a calma
ratos que roem riso que move
relógio que pára o clic sem alma

da fotografia Então este tique
do verso rimado como um escroc
passa pra cá a perna e tu vais a reboque

                                                                           (Atenas, 2015)

Carlos Leite

DiVersos, Poesia e Tradução / n.º 25 - dezembro de 2016, Edições Sempre-Em-Pé,
Águas Santas

8.4.17

O MEL DE DEMÓCRITO

Dos átomos seguiste o movimento
dançando turbulento no vazio.
E vergaste-te à força do desejo
que engendra o corpo em outro divisível.
Mas nada mais fruíste do que o mel
na alma até à morte diluído.

José Augusto Seabra

Homenagem aos pré-socráticos (11 poemas), Edição Palavra em Mutação & autor, 2004