29.5.22

Ariadne

Estender o fio do horizonte,
lavar a luz e secá-la ao sol.
Esperar depois que Teseu chegue
para descobrir que por mim
não se alegrou. Saber desta maneira
como é a luz escura e que o último
labirinto é o mais cruel.


Amadeu Baptista

DiVersos, Poesia e Tradução | n.º 33 outono-inverno de 2021-22 (de uma sequência de poemas do livro no prelo Escrito na Grécia)

23.5.22

OS LIMITES DA ORNITOLOGIA

Quando Charles Simic disse de uma pedra
que pode transformar-se em pássaro
os deuses riram-se. E também
os eruditos, os inventores de leis,
os senhores da guerra. Mas da mão para o alto
a pedra voou e consta,
desde então,
que ninguém veio pedir contas às nuvens.
Extremamente cuidadosos
os cristais brilham como lâmpadas
em permanente estado de alerta.


Luís Filipe Parrado

Roma não Perdoa a Traidores, Língua Morta, Março de 2021

21.5.22

Corinto

No baixo-relevo do acrotério
de Corinto pode ver-se
o rapaz que apregoa uvas
há mais de dois mil anos.


Amadeu Baptista

Acanto, Revista de Poesia - número 5, Edição Hora de Ler, Unipessoal, Lda., Leiria, Abril de 2022

18.5.22

Michel Pauvros sustentou em Bruxelas

Michel Pauvros sustentou em Bruxelas,
com brilhantismo e a argúcia
a que nos habituou, não haver qualquer diferença
entre um erro de ortografia e uma catástrofe nuclear.

ANÓNIMO
       (?)

poetas sem qualidades, Averno | 2002, [Bardamerda - Poemas Citacionistas Contemporâneos, Lisboa, & etc, 1999]

10.5.22

ESTE ANO

Este ano cresceu de joelhos
a noite conservou as quatro luas
as crianças têm seus cabelos
seus gritos de paz intransmissíveis


Luiza Neto Jorge

poesia 1960-1989, 2.ª edição, organização e prefácio Fernando Cabral Martins, Assírio & Alvim, Setembro 2001