10.12.13

PUNHAL EXCELENTE

Já quase não há, o punhal excelente
com que a mim próprio me esventrei algumas vezes
para melhor me desentranhar em versos --

-- esses lícitos salpicos de lama,
essas coisas à toa, hossanas, ambições,
promessas, juras, astutas
ingenuidades: toda essa merda que há
dentro do poeta e com que ele gosta
de borrifar os outros. Para que
não se fiquem a rir.

E eis que agoniza: o gume rombo,
manchas inamovíveis de ferrugem,
incapaz de incisões, definitivamente
inoperacional o punhal excelente.

Paz ao seu aço.

A. M. Pires Cabral

gaveta do fundo, Edições Tinta-da-China, Lda., Lisboa, Novembro de 2013

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