Criei a alma. A vegetação de países
irrepetíveis. Vastos bosques orlam os caminhos. Os muros
dão para o mar. As aves pontuam o céu. As ondas
[arremessam-se
sobre o litoral. O poema é cruel,
indeciso.
Preparei a nostalgia violenta da criação. Sentei-me
nos bares marítimos de cidades inglesas, esperando barcos
que não vieram. Invoquei regressos, longas
viagens, percursos espirituais. Cada dia me trouxe
uma diferente sensação.
As folhas juncam o chão. O terror
assola o planalto, as populações mórbidas
do poente. Uma voz canta as mulheres obscuras
de Southampton. Chove no poema
há alguns anos. O poeta abre, finalmente,
o chapéu de chuva.
Nuno Júdice
A NOÇÃO DE POEMA, Publicações Dom Quixote, Março de 1972
17.12.18
13.12.18
Alma Perdida
Duas flores sobre a mesa
uma para ti, a outra
para o corvo
Eu não era uma pedra no jardim
uma estrela no céu
ou uma pena na asa das nuvens
eu era uma alma primitiva como o fumo
pairando no isolamento dos seres
entrando como as intimidades no coração
e no olhar
Eu não tinha terra
a minha presença era a ausência
Fui sempre o silêncio das fontes
o murmúrio das pedras abrindo-se à erva
ou a revelação da terra devastada
Deixa-me pois
e fecha-me como um livro qualquer
Duas flores sobre a mesa
uma para ti
a outra
para o corvo
Iusuf Abdelaziz
PEQUENA ANTOLOGIA DA POESIA PALESTINIANA CONTEMPORÂNEA, Selecção e tradução de Albano Martins com um desenho de Alberto Péssimo, Edições ASA, Porto, 2003
uma para ti, a outra
para o corvo
Eu não era uma pedra no jardim
uma estrela no céu
ou uma pena na asa das nuvens
eu era uma alma primitiva como o fumo
pairando no isolamento dos seres
entrando como as intimidades no coração
e no olhar
Eu não tinha terra
a minha presença era a ausência
Fui sempre o silêncio das fontes
o murmúrio das pedras abrindo-se à erva
ou a revelação da terra devastada
Deixa-me pois
e fecha-me como um livro qualquer
Duas flores sobre a mesa
uma para ti
a outra
para o corvo
Iusuf Abdelaziz
PEQUENA ANTOLOGIA DA POESIA PALESTINIANA CONTEMPORÂNEA, Selecção e tradução de Albano Martins com um desenho de Alberto Péssimo, Edições ASA, Porto, 2003
1.12.18
DE PASSAGEM
O tempo
passa
e não
se vê.
Não se
pressente
enquanto
passa.
Só se
sente
quando
passou.
É por
isso que
nunca
o temos.
Fernando Aguiar
O POSSÍVEL DA MEDIDA, Edição BUSÍLIS (Tropelias & Companhia - Associação Cultural), outubro 2018.
passa
e não
se vê.
Não se
pressente
enquanto
passa.
Só se
sente
quando
passou.
É por
isso que
nunca
o temos.
Fernando Aguiar
O POSSÍVEL DA MEDIDA, Edição BUSÍLIS (Tropelias & Companhia - Associação Cultural), outubro 2018.
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