Nunca chegaremos ao cerne das medusas
à nervura das pedras
o esforço suga o coração
embranquece a luz impalpável das folhas da parreira
no ardor de Agosto
um gato adormece sobre o peito
a esta hora melancólica - a sombra da catedral
no interior da Terra algo se prepara sempre
surgirá o outro dia e os presságios
são talvez de treva de névoa
de musgo ou salitre
o silêncio canta no ouvido dos bichos
(os bichos ardem nas locas do crime)
nunca chegaremos ao local das brisas
mas é na Terra o único envolvimento
da açucena
27/8/91
(à memória de Ruy Belo)
Levi Condinho
Colheita serôdia - inéditos e dispersos, Edição Húmus, 2020, Vila Nova de Famalicão