Tomai
e bebei. Este
é o meu fel.
© Domingos da Mota
27.10.23
15.10.23
PERGUNTAS DO AMANHECER
– Minha mãe, minha mãe
o pão é vermelho porquê?
– Porque o trigo está
sangrando,
filho meu,
um sangue que não se vê...
o pão é vermelho porquê?
– Porque o trigo está
sangrando,
filho meu,
um sangue que não se vê...
10 de Março, 2022
Yvette K. Centeno
Ventanias, edição Eufeme, Leça da Palmeira, Setembro de 2023
Ventanias, edição Eufeme, Leça da Palmeira, Setembro de 2023
11.10.23
!
Porque vivemos o que vivemos
porque vemos o que vemos
porque fazemos o que fazemos
passarei a pente fino todas as folhas
jornais, poemas, artigos, cartas
boletins, discursos
e eliminarei deles
todos os pontos de exclamação
porque vemos o que vemos
porque fazemos o que fazemos
passarei a pente fino todas as folhas
jornais, poemas, artigos, cartas
boletins, discursos
e eliminarei deles
todos os pontos de exclamação
Murid Al-Barghuti
Pequena Antologia da Poesia Palestiniana Contemporânea, Selecção e tradução de Albano Martins, Asa Editores, S. A., Porto, Fevereiro de 2004
Pequena Antologia da Poesia Palestiniana Contemporânea, Selecção e tradução de Albano Martins, Asa Editores, S. A., Porto, Fevereiro de 2004
10.10.23
TEMPESTADE
Nos cordames as gaivotas
escutam o relâmpago que tomba com os cabos da âncora
para o leito do mar.
Trovão sobre o Carmelo.
Seu eco na raiz dos ciprestes.
Na orelha das cavernas.
David Rokeah
Tradução: J. Guinsburg / Zulmira Ribeiro Tavares
ROSA DO MUNDO 2001 POEMAS PARA O FUTURO, Assírio & Alvim, Lisboa, Abril 2001: 1556
9.10.23
A Era dos Vivos
Os vivos
não desistem
de viver
Os mortos também
Mohammed Al-As'Ad
Pequena Antologia da Poesia Palestiniana Contemporânea, Selecção e tradução de Albano Martins, Asa Editores, S. A., Porto
não desistem
de viver
Os mortos também
Mohammed Al-As'Ad
Pequena Antologia da Poesia Palestiniana Contemporânea, Selecção e tradução de Albano Martins, Asa Editores, S. A., Porto
8.10.23
Bilhete de Identidade
regista lá:
eu sou árabe
e o número do meu B.I. é o cinquenta mil
e os meus filhos são oito
e o nono chegará depois do verão.
e então, isso chateia-te?
regista lá:
eu sou árabe
e trabalho com um bando de operários numa pedreira
e os meus filhos são oito.
trago-lhes das pedras uma
fatia de pão, e roupas e cadernos
e não peço caridade à tua porta
e não me encolho na tijoleira da tua entrada.
e então, isso aborrece-te?
regista lá:
eu sou árabe
eu sou um nome sem título,
paciente num país onde todos
vivem em convulsões de fúria.
as minhas raízes
rasgaram a terra antes do nascer dos tempos
e antes do abrir das eras
e antes do cipreste e da oliveira
e antes do despontar da erva.
o meu pai é da família do arado,
não de grandes senhores,
e o meu avô era lavrador,
sem educação, sem linhagem.
educa-me o assomar do sol antes da leitura dos livros,
e a minha casa é a barraca do caseiro,
feita de galhos e de canas.
e então, agrada-te a minha condição?
eu sou um nome sem título!
regista lá:
eu sou árabe
e a cor do meu cabelo é negra, cor de carvão
e a cor dos meus olhos é castanha.
e os meus sinais particulares são
sobre a cabeça um cordão em cima de uma cúfia,
e a palma das minhas mãos rija como um penedo
arranha ao toque.
e a minha morada:
eu sou de uma aldeia perdida, esquecida
de ruas sem nome,
e os seus homens estão todos no campo e na pedreira.
e então, isso aborrece-te?
regista lá:
eu sou árabe
tu roubaste os pomares dos meus avós
e a terra que lavrei
eu e os meus filhos todos,
e não nos deixaste nada, nem a nenhum dos meus netos,
senão estes penedos,
pois vai o vosso governo
levá-los, como se diz?
portanto
regista lá
à cabeça da primeira página:
eu não odeio os homens
e não ataco ninguém,
mas se tiver fome
como a carne do meu usurpador.
cuidado
cuidado
com a minha fome
e com a minha fúria.
Mahmoud Darwish
UM ÁRABE É UM ÁRABE, É UM ÁRABE, UM ÁRABE, breve antologia de poesia árabe, textos introdutórios, Daniel Ferreira e Joana Santos, versões e traduções, André Simões e Joana Santos, editora contracapa, 4.ª edição, Vila Meã, Setembro de 2023
1.10.23
ARRABALDE
Sabes do destino das ruas mais distantes
e aí persistem plenas as ausências
moradas de um abandono iluminado
Seguimos as pisadas que se perdem
o canto rouco das torrentes da poeira
demolidos portões, a ferrugem das passagens
Nos teus olhos outros olhos que se afastam
ao longe noutro arrabalde
e tudo disposto para sempre sem lugar
e aí persistem plenas as ausências
moradas de um abandono iluminado
Seguimos as pisadas que se perdem
o canto rouco das torrentes da poeira
demolidos portões, a ferrugem das passagens
Nos teus olhos outros olhos que se afastam
ao longe noutro arrabalde
e tudo disposto para sempre sem lugar
José Manuel Teixeira da Silva
Os Pequenos Nós da Tempestade, Língua Morta, Abril de 2023
Os Pequenos Nós da Tempestade, Língua Morta, Abril de 2023
Subscrever:
Mensagens (Atom)