27.5.24

DESAPARECIMENTO PROGRESSIVO

7


Se ninguém sabe o teu nome
encoberto, se os teus dentes
apodreceram, se os pastores
não te reconhecem como o senhor
das cabras que hão-de vir,

não venhas, não serás o rei nem
o roque, viverás nessa mansarda
com as ratazanas e o muito pó
da história, será um romance
mas, crê, nada mais do que isso,


José Viale Moutinho

DESAPARECIMENTO PROGRESSIVO, Editora Exclamação, Lda., Porto, Dezembro de 2023

24.5.24

O POETA E O SOCIAL

14


O poeta tem
objectivos claros,
mesmo quando
parece obscuro.


Alberto Pimenta


O POETA E O SOCIAL - 40 TESES SEGUIDAS DE EXERCÍCIO
PARA MESTRES E MESTRANDOS
e
OS PORTUGUESES NUNCA COMUNGARAM  DO IDEÁRIO MARXISTA
- INSTALAÇÃO DE PALAVRAS EM 6 CAPÍTULOS

Edições Saguão, Abril de 2024

17.5.24

Música Nua



                100.




 O rio correu entre nós
         ascendendo
para a terra. Espera-nos
         o pó. Um pó
         apaixonado.


Casimiro de Brito

Música Nua, Coisas de Ler Edições, Lda., Setembro de 2017

11.5.24

DEGENERAÇÃO MACULAR

Vejo agora a vida numa nuvem suspensa
sobre a luz clara do dia.
Degeneração macular
disse o médico dos olhos.
Coisas da idade.
E mostrou a imagem de uma espécie de rio
ou ondulante verme de ventre tumefacto
que vi com o olho ainda bom
tapando a mácula.
Ainda assim gostei do nome
a mácula
a mancha
a mágoa serpentina
só não sabia que morava atrás dos olhos
que foram verdes quando havia Primavera.

Helder Macedo

in NERVO / 21 colectivo de poesia Maio/Agosto 2024, editora: Maria F. Roldão

10.5.24

Zangão

Que faz um homem no meio de um pomar florido?
Uma oração entre zangões.

Adelino Ínsua

Bestiário Íntimo
, Edições Húmus, Vila Nova de Famalicão, Março de 2024