Que fiquem apenas as aves
tecendo, com bicos macios,
os rasgos agrestes da dor.
Victor Oliveira Mateus
EREMUS ET CIVITAS LUCUM Antologia Poética (1984 - 2024), Editora Labirinto, Fafe, 2024
«Tudo é semente.» Novalis
Mudança de hora.Atrasa-se o relógio
por dentro ou por fora?
Domingos da Mota
Eufeme n.º 23, Magazine de Poesia (Abril/Junho 2022), Editor: Sérgio Ninguém
VALEU
O ar tornou-se mais espesso,
mais pesado, mais sombrio
(quase virado do avesso)
e com um cheiro a bafio.
O risco de empestar
tudo o que mexe em redor
é real, e o fedor
será pior, bem pior.
© Domingos da Mota
© Domingos da Mota
os poemas são assim coisas que a gente
lê nos livros de versos. há quem diga
que são coisas que a gente sente.
que se fazem quando se rima ante com
violante mas eu prefiro não perceber isso.
os poemas é quando a gente queima os
fósforos todos da carteira ou bebe o vinho
todo da garrafa ou lê um livro do
princípio ao fim ou estamos simplesmente
o olhar ou não dizemos nada ou não
fazemos nada ou caímos nus na mulher
nua ou escrevemos amo-te ou telefonamos
ao acaso ou os poemas são seres
que nascem ciclicamente. agora por exemplo
vou deixar crescer a barba.
José Alberto Marques
M. Alberta Menéres E. M. de Melo e Castro, Antologia da Poesia Portuguesa 1940-1997, 2.º Volume, Círculo de Poesia Moraes Editores, Lisboa, 1979:342