nem há lixívia ou aguarrás
que apague as marcas que traz
Vasco Graça Moura
Se alguma trama
sumisse a lama
limpasse o lastro
varresse o rasto
nem que fizesse
uma barrela
apagaria
o labéu dela
© Domingos da Mota
«Tudo é semente.» Novalis
nem há lixívia ou aguarrás
que apague as marcas que traz
Vasco Graça Moura
Se alguma trama
sumisse a lama
limpasse o lastro
varresse o rasto
nem que fizesse
uma barrela
apagaria
o labéu dela
© Domingos da Mota
Se há quem queira
fazer da lama
uma bandeira
luzeiro chama
facho farol:
pendão a prumo
súmula e sumo
guião de escol
© Domingos da Mota
Se quem proclama
ser impoluto
(que não tem lama
no valhacouto)
esconde o rastro
sob o tapete
será que passa
sem o ferrete?
© Domingos da Mota
© Domingos da Mota
Se há quem sufrague
eleja vote
vote na lama
e nem denote
(habituado
a chafurdar)
maior prurido
sequer mal-estar
© Domingos da Mota
Fosse o sol da Primavera
que viesse celebrar
(depois da chuva, quem dera)
e não o vento a soprar
as nuvens negras da guerra
(com laivos de guerra fria),
fosse o sol da Primavera
que iluminasse este dia;
fossem melros e pardais
e andorinhas em bandos,
e não estes infernais
avejões, com ditirambos
que decantam o Inverno
permanente, quase eterno.
© Domingos da Mota
Se a lama impregna
e alucina
quem passa a perna
(coisa benigna?)
fará do lodo
um ritual
modo de estar
consensual?
© Domingos da Mota
Quanta barganha
se posta ao léu
deixa quem ama
manter o véu
atormentado
com falta d'ar
por ver o mundo
a desabar?
© Domingos da Mota
Fétida a lama
que nem barrela
limpa quem ama
deitar-se nela
assim opaca
barrenta escura
que só cloaca
será tão turva
© Domingos da Mota
Para a Lua, a Ísis e o Lindo
20-07-2022