10.9.15

Parábola sobre a utilidade das coisas

     Não há espaço para poemas, nem retórica.

     Jean-Claude Juncker



Inúteis os poemas, não há espaço;
inúteis os poemas, pois não salvam;
inúteis os poemas, não acabam
com as balsas e os muros e as fronteiras
e não dão de comer a quem tem fome
e não dão de beber a quem tem sede
e não passam rasteiras aos que tentam
fugir do sufoco e do arame
farpado que lhes tolhe os horizontes;
inúteis os poemas, não impedem
os naufrágios de milhares, sequer
as guerras de que tantos fogem aos milhões;
inúteis os poemas, não traficam
armas e mais armas e mais gente
e petróleo e petróleo e mais petróleo;
inúteis os poemas. Tão inúteis.
Úteis os discursos e as lágrimas
de velhos crocodilos.

© Domingos da Mota


Pequeno tratado das sombras, Edição Busílis, 2018


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