Na cidade branca
Entre as migalhas de pão
Habitam dois poetas
O primeiro é negro -- lua quebrada
De que as baleias procuram os restos
O outro é branco -- tal uma criança
Dorme todas as noites
Com uma serpente negra
Adonis
O Arco-Íris do Instante, Antologia Poética, Introdução, selecção e tradução de Nuno Júdice, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Outubro de 2016
28.10.16
27.10.16
CARTA A ADONIS, POETA SÍRIO-LIBANÊS
5.
Querido Adonis, trouxeram-me um retrato
teu, pescado na Internet.
Não há um corte --
entre a tua poesia e o que promete
a tua imagem é palavra cortada
à feição, como a fruta
que incita ao roubo.
Um borrifo de Deus --
e o mais desassombro.
António Cabrita
Combate de Flautas, &etc, Lisboa, Setembro de 2003
Querido Adonis, trouxeram-me um retrato
teu, pescado na Internet.
Não há um corte --
entre a tua poesia e o que promete
a tua imagem é palavra cortada
à feição, como a fruta
que incita ao roubo.
Um borrifo de Deus --
e o mais desassombro.
António Cabrita
Combate de Flautas, &etc, Lisboa, Setembro de 2003
19.10.16
A avó
Tinha ao colo o gato velho
cansadamente passando
a sua branca mão pelo
pêlo dele preto e brando
Sentada ao pé da janela
olhando a rua ou sonhando-a
todo o passado passando
a passos lentos por ela
Dormiam ambos enquanto
a tarde se ia acabando
o gato dormindo por fora
a avó dormindo por dentro
Manuel António Pina
OS LIVROS, Assírio & Alvim, Lisboa, Novembro 2003
cansadamente passando
a sua branca mão pelo
pêlo dele preto e brando
Sentada ao pé da janela
olhando a rua ou sonhando-a
todo o passado passando
a passos lentos por ela
Dormiam ambos enquanto
a tarde se ia acabando
o gato dormindo por fora
a avó dormindo por dentro
Manuel António Pina
OS LIVROS, Assírio & Alvim, Lisboa, Novembro 2003
Subscrever:
Mensagens (Atom)