Nós é que éramos os bárbaros.
Pensando em nós é que vocês tremiam nos vossos palácios.
Era por estarem à nossa espera que o vosso coração batia desordenadamente.
Das nossas línguas é que vocês diziam:
talvez se componham só de consoantes,
de frufus, sussurros e folhas secas.
Nós é que vivíamos nas florestas negras.
De nós é que tinha medo Ovídio em Tomi,
Nós é que adorávamos deuses com nomes
que vocês não conseguiam pronunciar.
Mas também nós conhecemos a solidão
e a angústia, e desejámos a poesia.
Adam Zagajewski
Sombras de Sombras, Selecção e tradução, Marco Bruno, revisão, Jorge Sousa Braga, prefácio, Adam Kirsch, Edições Tinta-da-china, Lda., Lisboa, Novembro de 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário