Pelas duas da manhã o gato leva-me
à cozinha para
me dar de comer. Hoje à noite atrasa a hora -
é esta a noite ideal para
a ilusão dos amantes (o que acontecer nessa hora
jamais
aconteceu). Acordado o
pensamento é a minha geografia -
o que fazer às imagens que nenhum poema
reclamou (a
gota que cai da torneira é sempre
a mesma gota? O
mar que um búzio contém é
o da praia onde estava?) Às duas
torna a ser uma e
o gato leva-me ao quarto
(se a noite não traz respostas é
sempre o silêncio quem fala)
o gato que escreve com as patas tem decerto
algo a dizer.
João Luís Barreto Guimarães
nómada, Quetzal Editores, Lisboa, Maio de 2018
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