8.10.18

DUPLICIDADE DO TEMPO

O níquel, o alumínio, o estanho,
e outros assépticos elementos,
ao fim se corrompem: o tempo
injecta em cada um seu veneno.

A merda, o lixo, o corpo podre,
os humores, vivos dejectos
não se corrompem mais: o tempo
seca-os ao fim, com mil cautérios.

João Cabral de Melo Neto

POESIA COMPLETA 1940-1980, Prefácio de Óscar Lopes, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Maio de 1986

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