Faço a travessia da noite
acossado por palavras.
Saem-me ao caminho com o cães
que guardam hortas,
ladram-me, procuram
morder-me os calcanhares.
Indóceis, sempre soturnas,
as palavras?
Pois são.
Mas é com elas que deito
remendos trapalhões
nesta espécie de sono com que à toa
e ingenuamente julgo limitar
os danos com que, com suas baionetas,
a noite me danifica.
A. M. Pires Cabral
A noite em que a noite ardeu, Edições Cotovia, Lda., Lisboa, 2015
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