13.8.19

PALAVRAS

Faço a travessia da noite
acossado por palavras.

Saem-me ao caminho com o cães
que guardam hortas,
ladram-me, procuram
morder-me os calcanhares.

Indóceis, sempre soturnas,
as palavras?

Pois são.
Mas é com elas que deito
remendos trapalhões
nesta espécie de sono com que à toa
e ingenuamente julgo limitar
os danos com que, com suas baionetas,
a noite me danifica.

A. M. Pires Cabral

A noite em que a noite ardeu, Edições Cotovia, Lda., Lisboa, 2015

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