Ao fundo da sala olhava-me humana e natural
como teria olhado Goya com os braços nus erguidos
atrás da nuca. Todo o corpo
desvendado e sem sombras mitológicas
a esconder a penugem do púbis. Por essa ousadia
inaugural da arte do nu bramiram inquisições
e até outra tela com o nu vestido
cumulou a penitência do herético pintor para ocultar
o inicial desbragamento que permaneceu oculto
mais de um século. Hoje as duas
telas estão na mesma sala descobrindo
a incontáveis visitantes
a impotência das mordaças da Arte.
Madrid, Museo del Prado
Inês Lourenço
Eufeme n.º 13 Magazine de Poesia (Outubro/Dezembro 2019)
Sem comentários:
Enviar um comentário