9.11.21

PALAVRAS NUNCA


Sim, posso escrever trigo,
e trémulo, e de oiro,
porém nunca uma espiga
brotará do meu verso
como brota de um sulco.
E escrever pintassilgo
e trino, porém nunca
soará nos meus versos
nenhum canto.
Nunca as nossas palavras
cativarão as coisas.
Acercar-se-ão delas,
andarão em seu torno
como uma brisa débil...
e voltarão vazias.
Com um perfume acaso,
com um eco, com uma
memória desbotada...;
porém as coisas sempre
ficarão no seu mundo
e as palavras nunca
serão mais que palavras.

27-II-1974

Miguel D'Ors





O Fiasco Perfeito, Apresentação, selecção e tradução de Luís Pedroso, Língua Morta / Poesia Incompleta, Maio de 2021

Sem comentários:

Enviar um comentário