Procurou de entre todos aquele que mais amava.
Fê-lo em silêncio, afagando os cães
que envelheciam aos seus pés,
enquanto as mulheres iam cerzindo nos gestos
um rosário de sal.
Qual o lugar do meu discípulo dilecto, inquiriu.
Um homem lembrou-lhe então que ele partira
há muitas luas atrás,
carregando aos ombros um navio em chamas.
Desde esse dia a memória
não mais deixou de rondar a casa
e o velho recolheu-se no jardim onde as estátuas
subiam às árvores com os olhos tão próximos da loucura.
Jorge Melícias
UMA ENTOAÇÃO SOBRE O FOGO, Officium Lectionis edições, Porto, 2021:37
Sem comentários:
Enviar um comentário