3.11.23

Gaza - a ferro e fogo

Os vivos
não desistem
de viver
Os mortos também

Mohammed Al-As'ad


Por muito cerco cerrado
Por muitas bombas e bombas
Sobre um povo castigado
Com terríveis hecatombes
Por muito que os algozes
Com algum desembaraço
Acicatem as ferozes
Ocupações do espaço
Por muito que o ódio solte
A raiva desesperada
E a sanha de revolta
Acere o fio da espada
Por muito que a vingança
Espicace mil horrores
E o fiel da balança
Desvalorize os clamores

Por muita bomba assassina
Sobre Gaza - a ferro e fogo
Por muita carnificina
Por muito discurso torvo
Por muito que as crianças
Em vez de colo e de leite
Bebam o fel dos verdugos
E a céu aberto se deitem
Por muito pão proibido
Por muita água cortada
Por muito sangue vertido
Por tanta mulher matada
Por muito que os corpos fiquem
Sob os escombros inertes
Ou nasçam crianças mortas

Por muito que não despertes
Da cegueira selectiva
Que branqueia o morticínio
E vertas lágrimas sujas
De crocodilo à espera
Que o genocídio force
A suposta rendição:

Há um povo que resiste
À brutal ocupação

© Domingos da Mota




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