E no entanto
Sofrimento e corrupção
PRIMEIRA NEVE [haikus], versões de Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim, Lisboa, Novembro de 2002
Sei que não hão de restar
sequer os dentes
nas cinzas do futuro.
Talvez este poema
faça eco
num beco sem saída.
Nem todos os fantasmas
são entidades translúcidas.
Alguns são antes de tudo
a matéria escura da linguagem.
Nuno F. Silva
Sol Subterrâneo, Edição Húmus, Vila Nova de Famalicão, Fevereiro de 2024
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Aceita o transitório; nada do que
é definitivo, e dura, te pode atingir.
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Raiz sempre presente, e do futuro
mistério aventurado mal ou bem
e sopro imaculado p'la manhã,
da árvore pendido um doce fruto
que derramado embora a ela puro
volta de novo, e que é voz e silêncio
dum canto renovado permanente
que para ser existirá sem música,
zumbido duma brisa acolhedora,
corrente d'água límpida a fluir
até ser a miragem do meu sonho,
princípio da beleza mavioso,
luz radiante em raios onde põe
a certeza de nunca ela o cobrir.
António Salvado
Ecos do Trajecto seguido de Passo a Passo, Edição Ricardo Neves Produção Lda., - A.23 Edições, 2014