4.4.24

POETA JÁ NÃO SOU

Poeta já não sou, se um dia o fui.
Tornei-me opaco, agreste, perdi norte.
O verbo estaca. Mexe, mas não flui
Como fluía dantes, nédio e forte.

Eu sei que não devia assim queixar-me.
O tempo vai e volta, e acaso um dia,
Buscando devaneio e algum charme,
O verbo ganhe frémito e folia.

É isto: tão queridos, sem vergonha,
Os poetas mentem, troçam, manipulam,
Não há lei que bom senso lhes imponha.

Prometo não voltar a inquietar-vos.
E enquanto o sangue e a linfa em mim circulam,
Impedirei que façam de vós parvos.


Fernando Venâncio

(colhido, com a devida autorização, na sua página do Facebook)

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