Exactamente setenta e sete pássaros diferentes
repartidos por sete livros de música
Não chega só uma vida para contar a plumagem
as películas esvoaçantes do breu real
ou os saltos coloridos de espessura entre os galhos
Volteiam de transparência em transparência
trespassam o dia, bicam o nó da sombra
Aguardamos sob o peso do sol, névoas até aos ossos
preenchemos depois as noites com cifras de aérea
gravidade
humilde exercício, transposição luminosa
É o mundo todo visível, questão de paciência
invisível totalmente, olhos recomeçados?
Pequenos factos radiantes
corações de tempos demasiado vivos
registos sobreagudos, coisas de atenta surdez
Sobrevoam os intervalos mais discretos da terra
alheios ao peregrino, humano sobressalto
anjos ou penas pesadas da neve
Já nos visitavam nas coutadas da Silésia
pedradas, tiros, valas comuns em Stalag VIII A
A cotovia dos campos, o papa-figos dourado
maçarico real, chasco preto, melro azul
José Manuel Teixeira da Silva
Música de Anónimo [poesia, 2001-2009], Companhia das Ilhas, 2015
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