26.
Vivemos
Na nossa própria terra
Como
Num campo de refugiados.
Todos perguntam:
Que estou eu a ver?
Ninguém tinha imaginado
Que a vida
Pudesse ser uma chaga
De aspecto incurável.
É provisório,
Dizem-nos,
Pois tencionam
Encaminhar-nos depois
Para outro campo
Que estão a tentar
Estabelecer:
Cercado a toda a volta
Das suas liberdades.
Alberto Pimenta
MARTHIYA DE ABDEL HAMID SEGUNDO ALBERTO PIMENTA, &etc, 2005
26.12.15
24.12.15
[Natal é uma voz circular]
Natal é uma voz circular
calor de um ovo na palha dos ninhos
e música de flautas habitando
a solidão dos caminhos
1979
Luís Veiga Leitão
POESIA COMPLETA, Organização de Luís Adriano Carlos e Paula Monteiro, Apresentação crítica de Luís Adriano Carlos, Edições ASA, Porto, Setembro de 2005
calor de um ovo na palha dos ninhos
e música de flautas habitando
a solidão dos caminhos
1979
Luís Veiga Leitão
POESIA COMPLETA, Organização de Luís Adriano Carlos e Paula Monteiro, Apresentação crítica de Luís Adriano Carlos, Edições ASA, Porto, Setembro de 2005
7.12.15
AUTO-RETRATO
Poeta é certo mas de cetineta
fulgurante de mais para alguns olhos
bom artesão na arte da proveta
narciso de lombardas e repolhos.
Cozido à portuguesa mais as carnes
suculentas da auto-importância
com toicinho e talento ambas partes
do meu caldo entornado na infância.
Nos olhos uma folha de hortelã
que é verde como a esperança que amanhã
amanheça de vez a desventura.
Poeta de combate disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos poucos de ternura.
José Carlos Ary dos Santos
OBRA POÉTICA, edições Avante! (5.ª edição), Lisboa, Julho de 1994
fulgurante de mais para alguns olhos
bom artesão na arte da proveta
narciso de lombardas e repolhos.
Cozido à portuguesa mais as carnes
suculentas da auto-importância
com toicinho e talento ambas partes
do meu caldo entornado na infância.
Nos olhos uma folha de hortelã
que é verde como a esperança que amanhã
amanheça de vez a desventura.
Poeta de combate disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos poucos de ternura.
José Carlos Ary dos Santos
OBRA POÉTICA, edições Avante! (5.ª edição), Lisboa, Julho de 1994
6.12.15
NADA DIREI
Nada direi do crocodilo.
É um bicho tímido, reservado, a quem a realidade magoa os dentes.
José Alberto Oliveira
ANIMAL ANIMAL um bestiário poético, organização Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim, Lisboa, Fevereiro 2005
É um bicho tímido, reservado, a quem a realidade magoa os dentes.
José Alberto Oliveira
ANIMAL ANIMAL um bestiário poético, organização Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim, Lisboa, Fevereiro 2005
5.12.15
DEZEMBRO
Tão baixo, possível. familiar,
o luar é apenas sujeira no céu.
Ainda mais abaixo, há grilos, mosquitos,
morcegos, a água barrenta
de um riacho, a doçura
dos frutos rachados pelos vermes
e também a aspereza
em rostos que o tempo tratou
como pedra que nunca foi movida.
Não fui uma ave migradora
e há rios que deixam de fluir
sem encontrar algo maior.
Daniel Francoy
CALENDÁRIO, Artefacto, Lisboa, Agosto de 2015
o luar é apenas sujeira no céu.
Ainda mais abaixo, há grilos, mosquitos,
morcegos, a água barrenta
de um riacho, a doçura
dos frutos rachados pelos vermes
e também a aspereza
em rostos que o tempo tratou
como pedra que nunca foi movida.
Não fui uma ave migradora
e há rios que deixam de fluir
sem encontrar algo maior.
Daniel Francoy
CALENDÁRIO, Artefacto, Lisboa, Agosto de 2015
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