Quero o silêncio perfeito
onde minha lembrança não abra rios de sangue.
Luís Amaro
DIÁRIO ÍNTIMO
____________________
DÁDIVA E OUTROS POEMAS, 2.ª Ed., com prefácio de Albano Nogueira & testemunhos epistolares inéditos, &etc 2006
24.8.18
22.8.18
CRIA-SE A MORTE NO TEU LEITO ABERTO
Cria-se a morte no teu leito aberto
entre a rosa deleite e a buganvília
que em mim tinge-se o peito de vermelho
Sei que fazia sempre o meu nó cego
Na vaga cintilante dorme um monstro
marinho que se esconde nos desertos
Apenas se apercebem as doninhas
do rodar deste tempo noites frias
A cal viva lacrado um sobrescrito
existe algures no reino da Moirama
oscila o templo o pêndulo vazio
Cai nos espaços mortos do sigilo
José Afonso
Textos e canções, 3.ª edição revista, Organização Elfriede Engelmayer (1.ª edição, Organização J. H. Santos Barros), Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000
15.8.18
Pintura
O céu não clareou completamente, depois da morrinha
No retiro secreto, a meio da jornada, demasiado preguiçoso
para sair
Sentado observo a cor verde do musgo
Ele começa a trepar pela minha roupa.
Wang Wei
HABITAR O VAZIO, Versões e Notas de Manuel Silva-Terra, Editora Licorne
No retiro secreto, a meio da jornada, demasiado preguiçoso
para sair
Sentado observo a cor verde do musgo
Ele começa a trepar pela minha roupa.
Wang Wei
HABITAR O VAZIO, Versões e Notas de Manuel Silva-Terra, Editora Licorne
14.8.18
Do lado dos abrunheiros
Os frutos alternam entre o vermelho maduro e o verde,
Como se flores de novo desabrochassem
Na montanha, se queremos reter um convidado,
Oferecemos-lhe um copo de aguardente de abrunho.
Wang Wei
HABITAR O VAZIO, Versões e Notas de Manuel Silva-Terra, Editora Licorne
Como se flores de novo desabrochassem
Na montanha, se queremos reter um convidado,
Oferecemos-lhe um copo de aguardente de abrunho.
Wang Wei
HABITAR O VAZIO, Versões e Notas de Manuel Silva-Terra, Editora Licorne
6.8.18
SONETO / SONETO
Poeta sou, se é isto ser poeta.
Distante, oculto, sibilino. Duro
pedaço de corindo, indício obscuro,
gota abissal de música secreta.
Amor apercebida já a seta.
Dor em riste, uma lança de amargura.
Espírito absorto, na sua clausura.
Imóvel, quieto, coração cata-vento.
Poeta sou se ser poeta é isto.
Angústia lancinante. Pavor surdo.
Velada melodia em contraponto.
Calado enigma atrás de intacto selo.
Meu sonho em fuga. Farto e carrancudo.
Na minha nau fantasma único a bordo.
13 de Abril, 1944
*
Poeta soy, si es ello ser poeta.
Lontano, absconto, sibilino. Dura
lasca de corindón, vislumbre obscura,
gota abisal de música secreta.
Amor apercebida da saeta.
Dolor en ristre lanza de amargura.
El espíritu absorto, en su clausura.
Inmóvil, quieto, el corazón veleta.
Poeta soy, si ser poeta es ello.
Angustia lancinante. Pavor sordo.
Vela melodía en contrapunto.
Callado enigma tras intacto sello.
Mi ensueño en fuga. Hastiado y cejijunto.
Y en mi nao fantasma único a bordo.
13 de abril, 1944
León de Greiff
TROCO A MINHA VIDA POR CANDEEIROS VELHOS / CAMBIO MI VIDA POR LÁMPARAS VIEJAS, Antologia Bilingue, Selecção|Hjalmar Greiff, Prefácio Jerónimo Pizarro, Tradução Gastão Cruz, Edição abysmo, Lisboa, Novembro 2014
Distante, oculto, sibilino. Duro
pedaço de corindo, indício obscuro,
gota abissal de música secreta.
Amor apercebida já a seta.
Dor em riste, uma lança de amargura.
Espírito absorto, na sua clausura.
Imóvel, quieto, coração cata-vento.
Poeta sou se ser poeta é isto.
Angústia lancinante. Pavor surdo.
Velada melodia em contraponto.
Calado enigma atrás de intacto selo.
Meu sonho em fuga. Farto e carrancudo.
Na minha nau fantasma único a bordo.
13 de Abril, 1944
*
Poeta soy, si es ello ser poeta.
Lontano, absconto, sibilino. Dura
lasca de corindón, vislumbre obscura,
gota abisal de música secreta.
Amor apercebida da saeta.
Dolor en ristre lanza de amargura.
El espíritu absorto, en su clausura.
Inmóvil, quieto, el corazón veleta.
Poeta soy, si ser poeta es ello.
Angustia lancinante. Pavor sordo.
Vela melodía en contrapunto.
Callado enigma tras intacto sello.
Mi ensueño en fuga. Hastiado y cejijunto.
Y en mi nao fantasma único a bordo.
13 de abril, 1944
León de Greiff
TROCO A MINHA VIDA POR CANDEEIROS VELHOS / CAMBIO MI VIDA POR LÁMPARAS VIEJAS, Antologia Bilingue, Selecção|Hjalmar Greiff, Prefácio Jerónimo Pizarro, Tradução Gastão Cruz, Edição abysmo, Lisboa, Novembro 2014
4.8.18
POESIA
Insectos de lirismo,
Filamentos no ar,
Na hora obscura e verde,
No céu crepuscular.
Vibráveis e eu não via
Nem ouvia vibrar,
Mas a noite crescia,
Mas a tarde ficava...
Enxofre, febre, sono,
Roxas dálias paradas...
Fins de tarde que em mim
Dia e noite não morrem...
Seria o mar tão verde
Ou a tarde cenário?...
Zumbiam frágeis, frágeis
Insectos de lirismo...
Cristovam Pavia
35+15 Poemas, Prefácio de Carlos Poças Falcão, OPERA OMNIA - Edição, Distribuição e Comercialização de Livros, Guimarães, Julho 2018
Filamentos no ar,
Na hora obscura e verde,
No céu crepuscular.
Vibráveis e eu não via
Nem ouvia vibrar,
Mas a noite crescia,
Mas a tarde ficava...
Enxofre, febre, sono,
Roxas dálias paradas...
Fins de tarde que em mim
Dia e noite não morrem...
Seria o mar tão verde
Ou a tarde cenário?...
Zumbiam frágeis, frágeis
Insectos de lirismo...
Cristovam Pavia
35+15 Poemas, Prefácio de Carlos Poças Falcão, OPERA OMNIA - Edição, Distribuição e Comercialização de Livros, Guimarães, Julho 2018
2.8.18
Verão
Depósitos de cinzas por toda a terra.
Em alguns, as fogueiras do Holi*
ainda ardem lentamente.
Até a lua começou
a proteger-se do sol.
*Holi, também conhecida como festival of colours ou festival of love, é uma celebração
hindu da primavera.
Summer
Ash pits all across the land,/In some, teh fires of Holi/still smoulder./
Even the moon has begun/to take refuge from the sun.
Eunice de Souza
Coração de Abacate, tradução de Francisco José Craveiro de Carvalho, edição do lado esquerdo, Coimbra / Fundão, Junho de 2018
Em alguns, as fogueiras do Holi*
ainda ardem lentamente.
Até a lua começou
a proteger-se do sol.
*Holi, também conhecida como festival of colours ou festival of love, é uma celebração
hindu da primavera.
Summer
Ash pits all across the land,/In some, teh fires of Holi/still smoulder./
Even the moon has begun/to take refuge from the sun.
Eunice de Souza
Coração de Abacate, tradução de Francisco José Craveiro de Carvalho, edição do lado esquerdo, Coimbra / Fundão, Junho de 2018
1.8.18
A MULHER DE LOT / LA MUJER DE LOT
Ainda ninguém nos esclareceu
se a mulher de Lot foi transformada
em estátua de sal como castigo
pela curiosidade irreprimível
e pela desobediência apenas,
ou se ela se virou pois no meio
de todo aquele incêndio pavoroso
ardia o coração que mais amava.
*
Nadie nos ha aclarado todavía
si la mujer de Lot fue convertida
en estatua de sal como castigo
a la curiosidad irrefrenable
y a la desobediencia solamente,
o si se dio la vuelta porque en medio
de todo aquel incendio pavoroso
ardía el corazón que más amaba.
Amalia Bautista
CORAÇÃO DESABITADO, Selecção e tradução de Inês Dias, Desenhos de Débora Figueiredo, Averno | 2018
se a mulher de Lot foi transformada
em estátua de sal como castigo
pela curiosidade irreprimível
e pela desobediência apenas,
ou se ela se virou pois no meio
de todo aquele incêndio pavoroso
ardia o coração que mais amava.
*
Nadie nos ha aclarado todavía
si la mujer de Lot fue convertida
en estatua de sal como castigo
a la curiosidad irrefrenable
y a la desobediencia solamente,
o si se dio la vuelta porque en medio
de todo aquel incendio pavoroso
ardía el corazón que más amaba.
Amalia Bautista
CORAÇÃO DESABITADO, Selecção e tradução de Inês Dias, Desenhos de Débora Figueiredo, Averno | 2018
Subscrever:
Mensagens (Atom)