22.3.21

A ÚLTIMA PARAGEM

O eléctrico passava ao longo das casas vermelhas.
As rodas nas torres das minas giravam
como carrosséis num parque de diversões.
Nos pequenos jardins cresciam as rosas sombreadas de fuligem,
nas pastelarias as vespas encarniçavam-se
sobre a cobertura dourada de um pastel.
Tinha quinze anos, o eléctrico deslocava-se
cada vez mais rápido por entre as habitações,
nos prados via malmequeres-dos-brejos amarelos.
Pensava que na última paragem
se desvendaria o sentido de tudo,
mas nada aconteceu, nada,
o condutor comia uma sandes com queijo,
duas velhotas falavam em voz baixa
dos preços, das doenças.

Adam Sagajewski

Sombras de Sombras, Selecção e tradução: Marco Bruno; revisão: Jorge Sousa Braga; prefácio: Adam Kirsch, Edições Tinta-da-china, Lda., Lisboa, Novembro de 2017

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