Oh, mia patria si bella e perduta
VERDI, Nabucco
Ó mundo belo e perdido,
outrora vivo e garboso,
hoje, da peste mordido,
por descaso criminoso
de quem pensa fabricar - com fim de enriquecer
e outros aniquilar -
micróbios de estarrecer!
O mundo está hoje nas mãos
de loucos enraivecidos,
que andam pelos desvãos,
do mundo, empedernidos,
tentando acumular
montes de obscena riqueza
e aos pobres triplicar
uma já grande pobreza!
Esta gente vai à missa,
esta gente quer o céu
e nem sequer desperdiça
o mais pequeno troféu.
Querem Deus e o Dinheiro,
o gozo e o perdão;
para eles, o mundo inteiro,
para os outros, nem um pão.
Neste mundo em desconcerto,
onde infames empresários
congeminam desacertos
e bizantinos cenários,
pondo em risco o mundo inteiro,
mas enchendo as algibeiras,
- vale tudo prò embusteiro,
fértil só em bandalheiras!
Ó mundo belo e perdido,
noutro tempo tão formoso
e agora corroído,
devastado e perigoso!
Possas tu erguer-te, belo,
de novo, forte e seguro.
Possa todo este flagelo,
saindo, deixar-te puro!
24.05.2020
Eugénio Lisboa,
depois de ouvir, mais uma vez, o «Coro dos escravos», da ópera
Nabucco, de
Verdi, num momento emocionante da vida italiana.
Poemas em Tempo de Peste, Guerra e Paz, Editores, S. A., Lisboa, Setembro de 2020