7.7.21

AO CONTRÁRIO DE NEWTON

Enchi um copo de água e pu-lo
em contraluz. Depois, devagar,
tirei o vidro de volta da água
e deitei-o fora. A água formou
um cilindro suspenso no ar,
a contraluz. Através da sua
transparência pude ver o céu,
o branco das nuvens, a linha
abstracta de um voo de ave;
e depois a própria água, limpa
de tudo o que os meus olhos
tinham visto através dela. Por
fim, sorvi devagar essa água,
como se ainda estivesse dentro
do copo; e no seu sem sabor
provei o céu, o branco das
nuvens, e o voo dessa ave que
me levou até ao horizonte,
como se a água se pudesse
tirar de dentro de um copo
e ficar suspensa.


Nuno Júdice


Nervo/11 colectivo de poesia  (maio/agosto de 2021)

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