Há momentos em que tudo o que desejo
é o silêncio e seu bálsamo. Momentos
que a própria música conspurcaria.
Mas há silêncio e silêncio. O que apeteço
não é o silêncio que alguma autoridade
decreta, seja direcção-geral, escola, igreja.
O silêncio que ambiciono há-de ser
sereno como nuvens e ervas bravas
e água em repouso e asas imóveis
de borboleta.
Há-de ser como o doce cansaço
que, depois que o vento tem passado,
fica a cintilar sobre as coisas
que o vento alvoroçou.
A. M. Pires Cabral
Caderneta de Lembranças, Edições Tinta-da-China, Lda., Lisboa, Novembro de 2021
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